segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Conselhos gratuitos de uma garota não desse tipo

Por motivos almodovarianos você está no Centro, em uma agência de empregos no 22º andar de um prédio que tira a palavra xexelento do fundo do baú. A maioria das vagas oferecidas é para telemarketing e promotores de vendas. Tem muita gente dando um jeito por aí. Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, a vida não pára. Usando sua capacidade de encarar situações como um estudo antropológico, enquanto aguarda um minuto, senhora bisbilhota os currículos que se amontoam na recepção. De repente, vê em um deles um “objetivo” sensacional: “adquirir toda e qualquer experiência pretendendo atingir a realização pessoal e profissional.
Disponibilidade imediata”. Head-hunters e consultores de carreira não entendem nada!

Namorados de longa data ouvem das pessoas “vão casar quando”, jovens solteiros pensam em respostas cretinas para “cadê a namorada”, e bons profissionais que estão começando o terceiro emprego no quinto mês do ano abraçam as pessoas que perguntam “mas o que você quer” e lhes dão um beijo estalado na bochecha: uma porrada de coisas!

Quero um passaporte cheio de carimbinhos que correspondam a histórias. Quero saber cozinhar. Quero assistir logo ao filme do Michel Gondry com o Gael. Noutro dia vi na revista um fio de diamantes para prender o cabelo, quero isso também: “jogue fora o elástico velho que você carrega no pulso”, dizia a matéria. Eu sei que isso eu não vou ter, a revista era a Vogue Jóias, mas será que esses quereres servem? Será que posso ao menos falar isso em público e nesse horário?

Não quero viver colocando um visto depois das minhas ações: acordar – visto! Me vestir dentro da equação humor+armário+temperatura – visto! Comer pãozinho francês - visto! Ouvir música no trânsito, checar o relógio para ver se pode ir embora, entretenimento pela TV, dormir de novo. Visto, visto, visto, e vivido? Eu quero achar tudo do… (posso falar palavrão aqui?) muito legal. Quero querer mais. Não, não sei bem o caminho. Sim, me preparei, estou preparadíssima para isso, me preparei tanto que distendi o joelho e precisei sentar.

Talvez você precise saber o que quer para saber o que é muito legal, e corre o risco de não achar tão legal assim ao chegar lá. Talvez só vá saber experimentando. Talvez precise experimentar milhares de coisas diferentes e sem nenhuma relação entre elas a não ser você e sua vontade de descobrir a melhor de todas. Pode acontecer também de você mudar de idéia e ter que começar de novo.

Você pode ter uma imaginação de Monteiro Lobato, porém o roteirista dessa história é muito mais criativo, adora pregar peças e vai te desafiar constantemente. Se alguém recebeu um script quando esse filme começou, produção! Faltou o meu. Não sei minhas falas. Especialmente depois da deixa “o que você quer” me dá um branco total. Então improviso. Ao invés de colocar um visto ao lado do que foi feito, vou dando notas: sensacional, vale a pena, só pagando muito, checar mais tarde, e por aí vai.

Numa dessas, você está sob um céu estrelado com velhos amigos. Enquanto um cozinha, o outro conta as novidades, todos se atualizam sobre as respectivas vidas, riem de velhas histórias… outros planos para quê? Já não disseram que a vida é o que nos acontece enquanto fazemos outros planos?

*Só porque a Bruna Demaison manda muito. Quero escrever igual a ela quando crescer..

4 comentários:

Lá Brichesi disse...

Nossa Senhora do Céu, alguém me explica o que seria essa mulher escrevendo?
Ela tem sempre as melhores palavras para explicar coisas, até então, inexplicáveis - impressionante.
E você, nem precisa crescer tanto assim, já tá no caminho certo!

bruna disse...

Oi Barbara, adorei me ver aqui! E adorei seus textos também, li tudo de uma vez só.
um beijo e muito obrigada pelos elogios,
Bruna

Bárbara Ikari disse...

Que lindo! Não tinha visto esse comentário da Bruna aqui! Como estou FELIZ!

Jessy disse...

Aii!! Amei esse Bah!!

Jeh