Quando eu penso vinte. Eu penso, pô, só vinte, sabe? Sou tão nova. Tenho pelo menos uns sessentinha pela frente. E se a medicina continuar nesse ritmo frenético, posso chutar uns oitenta, noventa. Mas aí eu lembro que são vinte e um. Vinte. E. Um, entende? Não sou mais adolescente. Não posso mais dar a desculpa que foi tudo culpa da minha mãe. Ou que ela não deixou. Não posso mais falar que eu sou muito nova. Pode ser exagero meu, mas estou chegando perto dos trinta. Passar dos vinte é estranho. Não quero ser adulta. Mas eu quero casar. Não quero procurar emprego. Mas eu quero meu dinheiro. Não quero falar que eu já tenho vinte e um. Mas quero poder ir pra Las Vegas logo.
Sabe a síndrome de Peter Pan? Então. Alguém me leva para a Terra do Nunca. Constrói uma Unicamp, Perdizes, Barão Geraldo, Casa da mamãe, Casa da Laís, cinema com meu lindo, Campinas Hall, Shopping Iguatemi, Yogoberry e me deixa um pouco lá vai. Espera eu passar em cálculo II, física III, química orgânica. Espera eu me formar, arranjar um emprego e quando eu estiver quase casando me traz de volta pra realidade. Aí sim eu vou poder dizer que estou feliz com meus vinte e um anos, formada, empregada e casada. Com tempo de sobra pra viver o casamento. Ir pra balada com meu filho. Trocar de emprego mil vezes e, quem sabe perceber que eu não gosto de engenharia. Quem sabe ganhar a vida escrevendo alguma coisa que me faça bem em alguma revista que eu ache bacana. Ou talvez cuidando da minha própria academia e podendo malhar o dia inteiro. Ou quem sabe encontrando tempo pra dormir e acordar com a neve caindo lá fora. Passear pela 5th Avenue como quem anda pela Avenida Sumaré. Ou talvez dirigindo uma Escalade em Miami como quem dirige uma Zafira em São Paulo.
E talvez seja essa minha busca por mais tempo para decidir minhas dúvidas que me põe maluca. Porque eu simplesmente não poderia ser daquelas pessoas que, com dez anos de idade, já sabem que querem ser médicos e assim vão ficando, até sair do colégio, fazer mil anos de cursinho e, enfim, cursar a Pinheiros e ser feliz pra sempre? Porque eu, que desde a sexta série, já passei por modelo, publicitária, médica, jornalista, administradora, porque fui acabar bem na ENGENHARIA? Porque? Só pra fazer com que meus vinte e um anos pareçam trinta e ficar achando todos os dias que sou velha e não terei mais tempo de terminar essa faculdade? Porque?
Meus amigos dizem pra eu parar com essa bobagem. Minha mãe diz que nada na vida tem idade. Meu namorado acha simplesmente que eu tenho algum problema. Meu pai acha que os dois anos de cursinho me deixaram meio atormentada. Minha irmã dá risada. Mas e eu? E eu? Eu não sei. Não sei o que eu quero da vida. Não sei se é engenharia, jornalismo, publicidade ou simplesmente ganhar na Mega Sena e ir curtir esse mundão com tempo de sobra. Se for mesmo verdade que “as pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam o que queriam da vida aos vinte anos”, fico feliz. Ter vinte e um e ainda não ter se encontrado também pode ser?
quarta-feira, 31 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
Os poderes de Greyskull
Por Bruna Demaison
Você pode acordar para ir trabalhar ou faltar e ver todas as estréias da semana. Pode vestir um terno ou decidir que hoje vai casual, mesmo que não seja friday. Pode almoçar no restaurante ali da esquina ou andar mais um pouco e arriscar um novo, ir regularmente à academia ou caminhar no parque ouvindo música. Pode dormir com a TV ligada ou ligar para alguém com quem não fala há tempos, arriscar outro caminho ou seguir naquele já conhecido, pode fazer Administração, Direito, Economia ou passar um ano a quilômetros da faculdade só para estudar línguas, arte e viajar por aí.
Você pode se formar e imediatamente começar uma pós-graduação ou confessar abertamente que não tem a mínima idéia do que quer ser quando crescer. Pode nunca sair de casa sem camadas e camadas de protetor solar ou torrar no sol e usar biquíni branco no inverno, pode ficar com todos os caras que te olham ou não estar nunca satisfeita com ninguém. Pode reclamar do que te incomoda ou esperar para ver se passa, guardar dinheiro para ter um carro zero ou andar de ônibus e ter mais sapatos que Imelda Marcos. Pode tocar vários instrumentos ou entender sobre musica tanto quanto o I-Tunes permite, insistir para ver se volta ou acreditar que acabou.
Pode saber de cor quantas calorias tem em cada alimento ou fechar a boca sempre que a calca jeans apertar, ler todos os clássicos ou os quadrinhos do jornal, sair todas as noites ou dormir oito horas por dia. Pode falar com seus amigos toda hora ou curtir os status nas redes sociais, viver num apartamento onde, se entrar correndo, cai pela janela ou se lembrar de avisar aos pais quando não dormir em casa. Pode anular seu voto ou se esforçar para entender os projetos de cada candidato, conversar para chegar a um acordo ou desistir porque não vale a pena.
Você não pode não se lembrar do que queria quando criança, não pode não saber se quem importa está bem, não pode não conhecer o lugar com o qual sempre sonhou ou não dar uma chance se existir uma mínima possibilidade. Não pode não saber quais musicas e filmes te fazem chorar e quais te fazem sorrir, não pode não descobrir por que está se sentindo mal há tanto tempo nem não ter algo só seu. Não pode não ter alguém com quem contar nem um motivo para continuar.
Você não pode um dia acordar e ver que não se lembra como tudo ficou assim. Pelo menos não deve.
*É disso que eu to falando!
Você pode acordar para ir trabalhar ou faltar e ver todas as estréias da semana. Pode vestir um terno ou decidir que hoje vai casual, mesmo que não seja friday. Pode almoçar no restaurante ali da esquina ou andar mais um pouco e arriscar um novo, ir regularmente à academia ou caminhar no parque ouvindo música. Pode dormir com a TV ligada ou ligar para alguém com quem não fala há tempos, arriscar outro caminho ou seguir naquele já conhecido, pode fazer Administração, Direito, Economia ou passar um ano a quilômetros da faculdade só para estudar línguas, arte e viajar por aí.
Você pode se formar e imediatamente começar uma pós-graduação ou confessar abertamente que não tem a mínima idéia do que quer ser quando crescer. Pode nunca sair de casa sem camadas e camadas de protetor solar ou torrar no sol e usar biquíni branco no inverno, pode ficar com todos os caras que te olham ou não estar nunca satisfeita com ninguém. Pode reclamar do que te incomoda ou esperar para ver se passa, guardar dinheiro para ter um carro zero ou andar de ônibus e ter mais sapatos que Imelda Marcos. Pode tocar vários instrumentos ou entender sobre musica tanto quanto o I-Tunes permite, insistir para ver se volta ou acreditar que acabou.
Pode saber de cor quantas calorias tem em cada alimento ou fechar a boca sempre que a calca jeans apertar, ler todos os clássicos ou os quadrinhos do jornal, sair todas as noites ou dormir oito horas por dia. Pode falar com seus amigos toda hora ou curtir os status nas redes sociais, viver num apartamento onde, se entrar correndo, cai pela janela ou se lembrar de avisar aos pais quando não dormir em casa. Pode anular seu voto ou se esforçar para entender os projetos de cada candidato, conversar para chegar a um acordo ou desistir porque não vale a pena.
Você não pode não se lembrar do que queria quando criança, não pode não saber se quem importa está bem, não pode não conhecer o lugar com o qual sempre sonhou ou não dar uma chance se existir uma mínima possibilidade. Não pode não saber quais musicas e filmes te fazem chorar e quais te fazem sorrir, não pode não descobrir por que está se sentindo mal há tanto tempo nem não ter algo só seu. Não pode não ter alguém com quem contar nem um motivo para continuar.
Você não pode um dia acordar e ver que não se lembra como tudo ficou assim. Pelo menos não deve.
*É disso que eu to falando!
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